O Jogo e a socialização na Educação Infantil
A grande maioria dos autores que trata do tema socialização diz que esse processo se inicia a partir da faixa etária de 6 anos, pois é nessa idade que a criança começa a deixar de ser tão egocêntrica e começa a ter mais condições de perceber o outro.
Porém, na prática, tanto na escola como em situações de recreação e lazer, as crianças aos três anos de idade, aproximadamente, começam a participar de jogos coletivos, ou seja, a vivenciar situações que podem ou não promover a socialização. São experiências que propõem algum tipo de relação entre essas crianças.
Partindo do princípio de que essas crianças ainda estão em uma fase egocêntrica, analisemos quais as primeiras experiências coletivas oferecidas e qual a percepção que se pode ter do outro na interação em jogo.
Após uma pesquisa realizada com professoras de Educação Infantil, levantamos os 10 jogos e brincadeiras mais utilizadas nesta faixa etária. São eles: Corre Cotia, Morto Vivo, Pega-pega, Amarelinha, Macaco Simão, Estátua, Dança das Cadeiras, Barra Manteiga, Passa Anel, Duro Mole.
Analisando esses jogos e brincadeiras, em grande parte há uma estrutura de exclusão, na qual aquele que erra é retirado do jogo e passa a ser espectador dos demais jogadores mais habilidosos. Os menos habilidosos, mesmo que não tenham sido excluídos, assistem e aplaudem os mais bem sucedidos e estes permanecem mais tempo do jogo.
Algumas questões para refletir: Se o mais habilidoso já é o mais bem sucedido, porque ele deve ter mais chances que os outros, se ele é, na verdade, quem menos precisa disso? Não há dúvidas de que o menos habilidoso poderá aprender com a observação, mas terá ele, em alguns casos, a chance de tentar novamente para assim se superar?
Segundo Kamii e DeVries (1980), para que um jogo seja adequado para o processo educacional, ele deve apresentar três critérios fundamentais:
1 - Que tenha algo interessante e desafiador, um problema a ser resolvido;
2 - Permitir que os participantes possam se auto-avaliar quanto a seu desempenho, para no futuro superar-se;
3 - Permitir que todos os jogadores participem ativamente do início ao fim.
De acordo com os itens acima, fortalecemos a idéia de que devemos modificar alguns jogos tradicionais para que não haja espectadores e sim jogadores. Caso contrário, não estaremos oferecendo as melhores relações possíveis que um jogo, uma brincadeira ou uma vivência podem proporcionar.
Conviver em um mesmo ambiente não garante a socialização entre as pessoas, é necessário criar oportunidade para que isso ocorra.
De acordo com DeVries (1998), “A interação entre colegas por si mesma não garante um ambiente sócio moral que promova o desenvolvimento infantil. O professor pode influenciar a qualidade das interações das crianças de várias maneiras, inclusive oferecendo atividades que engendram a necessidade e o desejo de interagir pelas crianças e o apoio ativo à cooperação e negociação entre os alunos”.
Acreditamos que na primeira infância as melhores atividades para promover trabalhos em grupo não são as que solicitam ações competitivas e sim aquelas que estimulam ações de cooperação - o fazer junto. Deste modo se podem conhecer e descobrir as diferentes capacidades e potencialidades do grupo e perceber o quanto isto é enriquecedor, já que não vivemos sozinhos e sim em sociedade, onde tudo e todos estão interligados.
Bibliografia
• De Vries, Rheta. Zan, Betty. A ética na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 1998. tra. Dayse Batista.
• Kamii, Constance. De Vries, Rheta. Jogos em grupo na Educação Infantil: Implicações da teoria de Piaget. São Paulo: Trajetória Cultural, 1991. trad. Marina Célia Dias Carrasqueira.
• Tonioli, Daniella. Jogos que Educam. São Paulo: All Print. 2007.
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