“ Uma perspectiva da preferência dos alunos, entre os
jogos cooperativos e jogos competitivos.”
FABIANO RODRIGUES DE CAMPOS
1. INTRODUÇÂO
O indivíduo desde que nasce assimila e aprende com as diversas situações vivenciadas por ele seja em casa, na escola ou sociedade. A sociedade em si requer diferentes e variadas formas de comportamento e participação, desta forma o individuo é obrigado a tomar ciência de sua posição no convívio social, tendo a necessidade de agir tanto individualmente ou em grupo.
Nossa sociedade é meramente competitiva e individualista, o que prevalece sempre o ganhar do outro, e muitas vezes isso significa prejudicar o outro. A cooperação pode ser uma das soluções para tanto individualismo e competição. Mas será que a competição é tão prejudicial assim? Será que de certa forma ela não possui aspectos positivos?
O que podemos ter certeza é de que a criança quando brinca se transporta para um mundo imaginário.
Através do lúdico a criança adquire seus valores, símbolos, habilidades, desenvolvem sua linguagem, explorando o ambiente e se inserindo em seu grupo social, segundo Winnicot (1975. p 78) afirma.
“ Que a brincadeira é a melhor maneira da criança comunicar-se, ou seja, um instrumento que ela possui para relacionar-se com outras crianças. Brincando, a criança aprende sobre o mundo que a cerca e tem a oportunidade de procurar a melhor forma de integrar-se a esse mundo que já encontra pronto ao nascer”.
Portanto, o brincar facilita a assimilação da aprendizagem do aluno, tornando-a a mais significativa e concreta. Entretanto no ambiente escolar devem ser respeitados aspectos que favoreçam a boa formação do indivíduo nos aspectos cognitivo, físico e social.
Para oferecermos um bom ambiente para essa formação devemos nos preocupar com os componentes de nossas aulas e de nossa escola, dessa forma o aluno poderá adquirir uma melhor qualidade de vida. Segundo ORLICK 1989,
“ Aqueles que se preocupam com a qualidade de vida em geral, e mais especificamente com a saúde psicológica das crianças, devem trabalhar no sentido de que seres humanos confiantes, cooperativos e felizes não se tornam uma espécie ameaçada de extinção”. (ORLICK 1989) Apud FAUSTO, Eliana Rossetti 2001.
O jogo é uma atividade que desperta o interesse de todos, tanto a quem joga quanto quem vê. No jogo somos capazes de sentir emoções de diversas magnitudes e sentidos, estabelecemos conexões entre a alegria e a tristeza, ansiedade e o nervosismo, o ganhar e o perder. O jogo nos toca profundamente, nos colocando em situações diferentes, nos preparando para o novo e nos fortalecendo também para vida, a respeito disso BROTTO afirma que
“temos no jogo uma oportunidade de nos expressarmos com um todo harmonioso, um todo que nos integra virtudes e defeitos, habilidades e dificuldades, bem como as possibilidades de aprender a SER... por inteiro, podemos desfrutar da inteireza uns dos outro e descobrir o jogo como um extraordinário campo para a descoberta de si mesmo e para o encontro com os outros”. (BROTTO op.cit, p.107) apud FAUSTO, Eliana Rossetti 2001.
No sentido de que a criança joga simplesmente pelo prazer de jogar ORLICK diz que
“ A principio a criança joga por prazer, pelo puro prazer de jogar, pelo estímulo e pela interação positiva com outras pessoas. Vencer não é importante, é irrelevante: divertir-se é extremamente importante”. (ORLICK op.cit, p.103) Apud FAUSTO, Eliana Rossetti 2001.
Devemos então tentar integrar as aulas de educação física no sentido de desenvolver as ações positivas no individuo. BROTTO pensando nesse sentido afirma que
“ através dos jogos e esporte temos a oportunidade de ensinar-aprender e aperfeiçoar não somente gestos motores, técnicos e táticos, nem somente, habilidades de desempenho que nos capacita para jogar melhor.isso é importante e é bom que seja muito bem feito.
Contudo, a principal vocação da Educação Física e das Ciências do Esporte, neste momento, é promover a co-aprendizagem e o aperfeiçoamento de Habilidades Humanas Essenciais, como: criatividade, confiança mutua, auto-estima, respeito, e aceitação uns pelos outros, paz-ciência, espírito de grupo, bom humor, compartilhar sucessos e fracassos e aprender a jogar uns com os outros, ao invés de uns conta os outros... para vencer juntos”. (BROTTO op.cit, p.49) Apud FAUSTO, Eliana Rossetti 2001.
Os jogos cooperativos são jogos cujos objetivos são para um bem comum, através deles podemos estimular o desenvolvimento de atitudes positivas. Falar de cooperação nos dias de hoje é complicado, pois vivemos em uma sociedade competitiva e individualista. A cooperação deve ser abordada não somente nas escolas, mas deve ser abordada em todos os seguimentos da sociedade, principalmente em seu grupo social, então porque não começarmos na escola? É óbvio que tudo construído com a cooperação de todos além de mais fácil de fazer se torna mais sólido. O convívio em sociedade requer respeito, solidariedade e cooperação a fim de beneficiar a todos, principalmente porque a cada dia a nossa sociedade se torna mais competitiva, nesse sentido BROTTO afirma que
“ viver em sociedade é um exercício de solidariedade e cooperação, destinado a gerar estados de bem-estar para todos, em níveis cada vez mais ampliados e complexos. Sendo um exercício, carece da convivência de atitude, valores e significados compatíveis com essa aspiração de felicidade interdependente”. (BROTTO op.cit, p. 29) Apud FAUSTO, Eliana Rossetti 2001.
A cooperação e a competição caminham juntas e fazem parte do mesmo contexto, para BROTTO.
“ competição e cooperação são processos sociais e valores humanos presentes no jogo, no esporte e na vida. São características que se manifestam no contexto da existência humana e da vida em geral. Porem, não representam, nem definem e muito menos substituem, a natureza do jogo, do esporte e da vida. Somente o melhor conhecimento desse processo, pode oferecer condições para dosar competição e cooperação nos diferentes contextos nos quais se manifestam”. (BROTTO op.cit, p.34) Apud FAUSTO, Eliana Rossetti 2001.
Se competimos é porque vivemos numa sociedade que estimula a competição, portanto devemos tentar ensinar os jogos competitivos cooperativamente.
O jogo cooperativo já vem de encontro com essa idéia de ensinar cooperativamente, com seus objetivos voltados para um bem comum. Mais não podemos simplesmente esquecer os jogos competitivos.
Neste trabalho faremos um estudo com a intenção de comprovar qual dos dois tipos de jogos os alunos de uma quinta série preferem jogar, para tal trabalharemos os dois tipos de atividades nas aulas de Educação Física e depois aplicaremos um questionário para delimitarmos esta informação, tentaremos definir que tipo de jogo eles preferem e porque gostam de tal tipo de jogo.
2. REVISÃO DE LITERATURA
Neste estudo pesquisamos uma turma de 5ª série do ensino fundamental de uma escola da rede pública do município de Ribeirão Cascalheira, , onde utilizamos atividades cooperativas e competitivas, com o enfoque principal de comparar os dois tipos de atividades para que os alunos pudessem verificar qual dos dois tipos de atividades eles preferem. Para compreendermos melhor o trabalho buscamos dados de alguns estudiosos para nos permitir um maior entendimento deste estudo. Primeiramente buscando definir o significado de duas palavras, competição e cooperação.
O que significa cooperação: significa colaboração, ajuda, compartilhamento, trabalhar em conjunto visando um objetivo em comum, facilitando a obtenção de resultados em beneficio de todos. Há interesse especial quando a cooperação envolve grande número de cooperantes.
Tentaremos agora dar um referencial da palavra cooperação, segundo o dicionário Aurélio cooperação é;
“operar ou obrar simultaneamente; trabalhar em comum; colaborar; cooperar para o bem público; cooperar para o trabalho em equipe.” SANTOS, Caroline Matos, Hélio Santos Bóga Filho, Maria Josiane de Azevedo Correia.
Numa visão voltada para o objetivo deste trabalho analisamos uma visão de BROTTO sobre cooperação no que acreditamos ser a mais real, segundo ele,
“ Cooperação: é um processo onde os objetivos são comuns, e as ações são compartilhadas e os resultados são benéficos a todos”. BROTTO, 2002, p.27).
Tentando também definir o significado de competição vamos analisar a definição do dicionário Aurélio, onde define que,
“Competição é o ato ou efeito de competir; busca simultânea por dois ou mais indivíduos, de uma vantagem, uma vitória, um prêmio, etc.” SANTOS, Caroline Matos, Hélio Santos Bóga Filho, Maria Josiane de Azevedo Correia.
Em um outro contexto BROTTO define também a competição com sendo:
Competição: é um processo onde os objetivos são comuns, mutuamente exclusivos e as ações são benéficas somente para alguns”. (BROTTO, 1997, p 33) Apud, LOPES, 2005.
Conhecendo o sentido de cada palavra podemos definir que a cooperação é a competição são processos diferentes mais de certa forma tem o mesmo objetivo, tenta explicar ORLICK que
“ A principal diferença entre cooperação e competição é que no primeiro todos cooperam e ganham, eliminando-se o medo do fracasso e aumentando-se a auto-estima e a confiança em si mesmo. Ao passo que no segundo, a valorização e o reforço são deixados ao acaso ou concedidos apenas ao vencedor, o que gera frustração, medo e insegurança”.(ORLICK 1989) Apud, LOPES, 2005.
Com isso podemos ver que a competição e a cooperação são diferentes na forma em que é interpretado o ato de “ganhar”, a forma em que se ganha, e a forma na qual se valoriza a vitória. Vamos evidenciar isso dentro do jogo, definindo este conceito.
Podemos analisar duas definições de HUIZINGA onde ele dá significado ao jogo. Na primeira tentando explicar o jogo como um elemento da cultura, retransmissor e ao mesmo tempo recriador, HUIZINGA coloca o jogo acima do lógico, ele o coloca como função da cultura, do mais baixo ao mais alto grau.
“Poderíamos considerá-lo uma atividade livre, consciente mente tomada como ‘não-seria’, e exterior à vida habitual, mas, ao mesmo tempo, capaz de absorver o jogador de maneira intensa e total. É uma atividade desligada de todo e qualquer interesse material, com a qual não se pode obter qualquer lucro, segundo uma certa ordem e certas regras. Promove a formação de grupos sociais com tendências a rodearem-se de segredo”.(HUIZINGA, 1980:16) apud KINIJNIK 2001.
Nessa segunda definição tenta dar um sentido orgânico para o jogo, falando se sua forma e emoções possíveis. HUIZINGA coloca que:
“o jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mais absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da “vida quotidiana”. (HUIZINGA, 1996:33) Apud BROTTO 2002.
No jogo conseguimos sentir e experimentar emoções diferentes, tais como: a satisfação e a frustração, por exemplo.
Dessa forma HUIZINGA coloca que:
“o jogo lança sobre nós um feitiço:” fascinante ““, cativante “. Está cheio das duas qualidades mais nobres que somos capazes de ver nas coisas: o ritmo e a harmonia”.(HUIZINGA, 2000:13) apud FAUSTO, Eliana Rossetti 2001.
Jean Chateau em sua obra, na tentativa de explicar o “porque a criança gosta de jogar”, diz que “, o jogo prepara para vida séria”, acredita que a criança brinca e dessa forma contribui para o seu desenvolvimento futuro:“Pelo jogo, ela (a criança) desenvolve as possibilidades que emergem da sua estrutura particular, concretiza as potencialidades virtuais que afloram sucessivamente à superfície do seu ser, assimila-as e as desenvolve, une e as combina, coordena seu ser e lhes dá vigor”. (CHATEAU, 1987:17) apud FREIRE 2003.
Jean Piaget, PIAGET, p: 148 apud FREIRE 1997, afirma que o jogo não prepara o individuo somente para o agora, mas também prepara o individuo para o amanhã, seja individualmente ou no convívio social lhe estabelecendo parâmetros de regras. “A regra é uma regularidade imposta pelo grupo e de tal forma que a sua violação representa uma falta”.
O jogo no seu ato pode e deve ser interrompido para discussões onde os indivíduos compõem suas regras tratando-a como ponto fundamental para o bom andamento do jogo dando total significado a estas palavras, Piaget diz o seguinte:
“O divertimento específico do jogo deixa assim de ser muscular e egocêntrico para tornar-se social”. (PIAGET, p: 37) apud FREIRE 1997.
Então entendemos que desde a criação e modificação do jogo (criação das regras, seus espaços e materiais), o comportamento criativo surge contribuindo para as formações intelectuais, culturais e sociais do aluno. Dentro do jogo existem vários componentes dois deles são a cooperação e a competição.
A competição e a cooperação fazem parte de qualquer tipo de jogo mesmo ele tendo objetivos distintos, basta para isso as atitudes de cada um, tentando explicar esta presença BROTTO evidencia que:
“ Competição e Cooperação são processos sociais e valores presentes no jogo, no esporte e na vida. Porem, não representam, nem definem e muito menos substituem, a natureza do jogo, do esporte e da vida” (BROTTO 2002: 26).
Como o objetivo deste trabalho é analisar a preferência pelos jogos cooperativos ou competitivos, vamos conhecer melhor os dois tipos de jogos compartilhando o ponto de vista de Brotto, que afirma que.
“Os jogos cooperativos vem com a intenção de compartilhar, unir pessoas, despertar coragem para correr riscos com pouca preocupação com o fracasso e sucesso em si mesmo. Eles reforçam em si mesmo e nos outros, e todos podem participar autenticamente, onde ganhar e perder são apenas referencias para o continuo aperfeiçoamento pessoal e coletivo”.(BROTTO 1997) apud, Conexões v.3.
Vejamos segundo SCHUT 1989, sua visão sobre a competição:
“a competição é prejudicial quando há tentativa de trapacear, quando há um gasto excessivo de energia para ganhar ou, ainda, quando representa a diminuição do adversário”. (SCHUT 1989) Apud SANTOS, Caroline Matos, Hélio Santos Bóga Filho, Maria Josiane de Azevedo Correia.
A competição pode ser explicada ou de certa forma encontrar fundamentação na teoria de DARWIN, SOLLER 2003 coloca que.
““o mais apto” não significa o mais forte ou mais bruto. Darwin ficou amargurado por suas teoria terem sido distorcidas para justificar negociatas, crueldades e guerras com os mais fracos. Charles Darwin afirmou claramente que para a raça humana o valor mais alto de sobrevivência está na inteligência, no censo moral e na cooperação social. Os jogos competitivos podem e devem ter o seu papel educacional. Esses podem contribuir para desenvolver no grupo o respeito, a solidariedade, a amizade entre outro, contudo que seja trabalhado em um ambiente bem administrado”. (SOLLER 2003) Apud SANTOS, Caroline Matos, Hélio Santos Bóga Filho, Maria Josiane de Azevedo Correia.
Os jogos competitivos podem e são de extrema importância para a formação social do aluno, quando trabalhado da forma correta colabora para a construção de seu intelecto, seu caráter e cultura corporal. A competição não é a vilã deste contexto, mas sim, a forma como a maioria dos profissionais a coloca como proposta de aula, e se trabalhada de forma humanizada, sem permitir a trapaça e com aspectos positivos, com certeza a competição terá bons resultados.
3. OBJETIVOS
3.1 Geral
Verificar a preferência dos jogos cooperativos e jogos competitivos entre alunos da 5ª série do ensino fundamental da Escola Municipal de Ensino fundamental Maria do Socorro Luz reis do município de Ribeirão Cascalheira - MT.
3.2 Específicos
• Analisar as diferenças entre jogos cooperativos e jogos competitivos;
• Aplicar atividades das duas modalidades para verificar a preferência do grupo pelos jogos cooperativos e competitivos.
• Verificar a adequação das atividades de acordo com a idade do grupo.
4. METODOLOGIA
4.1 Tipo de Pesquisa
Para o desenvolvimento deste trabalho, foi realizada uma pesquisa experimental. A pesquisa experimental é um instrumento que visa a aplicação de um trabalho a fim de se avaliar os resultados, sendo estes positivos, negativos ou nenhum. Neste sentido, a pesquisa foi realizada através de aulas de Educação Física em uma turma de 5ª serie, apoiada em algumas bibliografias, periódicos e artigos sobre jogos cooperativos e jogos competitivos.
4.2 Natureza das variáveis
Quanto à natureza das variáveis a pesquisa caracteriza-se como quantitativa. Pesquisa baseada na aplicação de aulas de Educação Física e avaliada por um questionário informal e aplicado aos alunos da turma a fim de levantar dados (números) para serem analisados e discutidos.
4.3 Local
A pesquisa foi realizada em uma escola de ensino fundamental da cidade de Ribeirão Cascalheira, Estado de Mato Grosso no período de dois meses compreendendo os meses de março e abril de 2006. Envolveu uma turma de alunos de 5ª série do ensino fundamental, com faixa etária compreendida entre 10 a 12 anos de idade, regularmente matriculados no período matutino da escola.
4.4 Instrumento de Pesquisa
O instrumento de pesquisa utilizado foi a aplicação de uma série de exercícios cooperativos e depois uma série de exercícios competitivos, antes da aplicação dos jogos cooperativos explicamos suas regras e qual era a finalidade de cada jogo, deixando-os livres na forma de atingir o objetivo em comum; para os jogos competitivos explicamos também as regras e o objetivo principal que era a vitória, deixando-os livres também para atingirem o objetivo principal, é claro desde que respeitadas as regras. Depois da realização dos jogos foi aplicado um questionário fechado visando obter as informações necessárias. O trabalho de levantamento dos dados foi realizado pelo próprio pesquisador.
Nesse trabalho, foi adotado o questionário fechado propiciando pertinência ao estudo de forma a obter informações diretas e objetivas que levaram a uma maior relevância com relação ao seu objetivo.
Para a realização do estudo foram utilizados os seguintes materiais:
- Bola de meia
- giz
- Bolas de futsal.
- Bolas de handebol.
- Bolas de voleibol.
- Bolas de basquetebol
- Rede de voleibol
- Corda.
- Garrafas pet.
- Apito.
4.5 Coleta de dados
Uma vez obtida autorização pela escola procedeu-se o início da pesquisa. Aplicamos inicialmente as atividades cooperativas e depois as atividades competitivas. Logo após aplicou-se o questionário fechado, o que correspondeu ao total de 02 meses de trabalho, respeitando horários de aula.
4.6 Atividades desenvolvidas.
Foram desenvolvidas atividades cooperativas e competitivas nas aulas de Educação Física; as atividades foram desenvolvidas no decorrer das 02 aulas semanais num período de dois meses. Nas atividades propostas, os alunos tinham que respeitar as regras e os seus colegas, e agir conforme os objetivos dos dois tipos de atividades.
As atividades desenvolvidas foram:
Atividades cooperativas;
- Multiesporte;
- Voleibol cooperativo;
- Queimada maluca;
- Base quatro.
Atividades competitivas;
- Jogo de futsal;
- Jogo de voleibol;
- Jogo de basquetebol;
- Jogo de handebol.
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na queimada maluca o objetivo desse jogo é queimar, não ser queimado e salvar os colegas. Os alunos podem salvar os colegas para que o jogo não pare. Nesse jogo podemos observar a participação, cooperação e o nível de individualidade e competição entre os participantes. Observamos que a maioria dos alunos salvava os colegas, mas um número significativo de indivíduos preferiram excluir os colegas no intuito de diminuir o número de participantes e dessa forma buscar o “melhor” ou “vencedor”, evidenciando a presença marcante da competição.
No voleibol cooperativo o objetivo do jogo é de marcar pontos para a equipe na qual o jogador está jogando, e assim que o ponto é marcado, o jogador passa para o time contrário. Os alunos tem a oportunidade de participar das duas equipes marcando pontos para ambas. Nesse jogo podemos observar a cooperação, a participação e a interação sócio-afetiva. Observamos que a maioria dos alunos que marcava pontos, não queriam trocar de equipe, pois estavam querendo marcar mais pontos pela equipe na qual estavam jogando naquele momento. Notamos também que a motivação para a continuação da atividade acabou rapidamente, e conseqüentemente o jogo terminou.
No multiesporte, integrado por quatro tipos de esportes: futebol de salão, handebol, basquetebol e voleibol, o objetivo é marcar pontos, cestas, gols e também defender as metas, com isso ocorre o aperfeiçoamento das habilidades motoras e a capacidade de organizarem-se em grupo. Nesse jogo podemos observar a cooperação, interação sócio-afetiva e atenção. Observamos que a maioria dos alunos gostaram dessa atividade e que a cooperação esteve presente na maioria do tempo de jogo, se empenharam em marcar a maioria de pontos não se preocupando muito com o placar ou com vencedores ou perdedores, estiveram sempre motivados até o final do tempo.
O base quatro é uma mistura de beisebol e brincadeiras de rua, o objetivo é de se salvar para marcar pontos passando por quatro bases logo após uma rebatida de uma bola. Nesse jogo podemos observar a cooperação, organização, interação social e nível de competição. Observamos que mesmo as equipes estando competindo entre si, houve uma grande cooperação dos componentes das equipes, a preocupação não era só de marcar pontos para vencer, mas de auxiliar os colegas para alcançar o objetivo do jogo, que hora era marcar pontos, e hora era de queimar o componente da outra equipe para que o mesmo não marcasse tempo.
No jogo de futebol de salão, basquetebol, voleibol e handebol que são considerados jogos extremamente competitivos a participação foi quase que total, ficaram de fora alguns alunos, quando perguntei porque de eles não queriam jogar me disseram que não gostavam de jogar porque não jogavam bem, “não sabemos jogar direito”, e completaram dizendo “eles ficam brigando com a gente e não tocam pra gente”. Neste caso observamos a grande presença da competição, estando os aspectos da cooperação, organização e interação em segundo ou terceiro plano e até mesmo inexistente.
Logo depois de aplicado todas as atividades pretendidas, aplicamos o questionário onde obtemos os seguintes resultados: quando perguntamos aos alunos se eles gostavam de jogos cooperativos, 66,67% responderam que gostavam e 33,33% que não gostavam. Quando perguntamos se eles gostavam de jogos competitivos 80% responderam que gostavam e 20% que não gostavam, o que nos leva a concluir que grande parte dos alunos gosta dos dois tipos de jogos. Veja o gráfico 1
Continuando a analisar o questionário perguntamos aos alunos o que eles achavam melhor em cada um dos tipos de jogos, para os jogos cooperativos 13,33% responderam que gostavam mais da forma de como é jogado, 26,67% das regras e 60% do fato de que todos ganham. Para os jogos competitivos, 16,66% disseram que gostavam da forma como é jogado, 16,66% das regras e 66,67% do fato de que sempre há vencedores, comparando neste aspecto os dados obtidos podemos dizer que grande parte dos alunos gostam de ganhar, e que a forma como é jogado e as regras dos jogos ficam em segundo e terceiro plano.
Quando perguntamos aos alunos com respeito à facilidade de se jogar cada tipo de jogo, 20% responderam que os jogos cooperativos são mais fáceis de jogar e 80% os jogos competitivos. O que nos explicita, comparando com os aspectos anteriores, que não é só o fato de ganhar que importa para eles mais o fato de vencer alguém ou outra equipe que os deixam mais satisfeitos, evidenciando assim a presença da competição e do prazer de vencer o outro.
A questão final do questionário era, que tipo de jogo você prefere? Jogo cooperativo ou competitivo. 13,33% responderam que preferiam os jogos cooperativos, e 86,67% preferiam os jogos competitivos, dessa forma terminamos por concluir que a maioria quase que absoluta gostam de competir entre si, ganhar do outro ou dos outros, o que não se contrapõe à visão imposta pela sociedade em que vivemos.
6.CONCLUSÃO
Através dos jogos competitivos e jogos cooperativos, aplicados nas aulas de educação física, nos é possível desenvolver as capacidades e habilidades psicomotoras dos nossos alunos, podemos por meio dos jogos, motivar e incentivar à prática de atividades físicas. Mas com relação à preferência dos alunos pelos jogos competitivos e jogos cooperativos observamos que eles gostaram dos dois tipos de jogos, mas esta preferência está implícita na motivação de ganhar, de ganhar do outro, de vencer. Mesmo os jogos cooperativos oferecendo um jeito mais justo de jogar, propiciando chances iguais e objetivos comuns, onde todos ganham, os alunos preferem os jogos competitivos pela facilidade de se jogar e pela motivação de ganhar, de vencer o “outro”, mas gostaram também dos jogos cooperativos e até apontaram vários pontos positivos.
Em linhas gerais, os jogos cooperativos e competitivos, são de certa forma diferentes, mas ao mesmo tempo semelhantes, na forma de se abordar o jogo. Eles estão ligados pelo fato de que são atividades voltadas ao desenvolvimento dos aspectos de cooperação, interação social, capacidades e habilidades motoras nos indivíduos, ambos, se não aplicados direito podem ter aspectos negativos e até mesmo nocivos, mas se trabalhados de forma correta, os dois terão na sua grande parte, ou totalidade, benefícios na formação “intelecto-fisico-social” do aluno e ou individuo.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BROTTO, F.O. Jogos cooperativos: O jogo e o esporte como um exercício de convivência. Santos: São Paulo, 2002
FAUSTO, E. R. Se a criança aprende a competir porque não ensiná-la a cooperar. 2001. Centro Universitário de Monte Serrat – UNIMONTE.
FREIRE, J. B. Educação de corpo inteiro. Teoria e pratica da Educação Física. 4ª ed. São Paulo: Scipione, 1997.
FREIRE, J. B; SCAGLIA, A. J. Educação como pratica corporal, São Paulo: Scipione, 2003.
KNIJNIK,J; DORFMAN. A questão do jogo: uma contribuição na discussão de conteúdos objetivos da educação física escolar. Revista
brasileira de ciências e movimento.V. 9 n.2 p. 45 a 48 Brasília. abril de 2001.
LOPES, J.C. Educação para convivência e a cooperação. Conexões v.3 nº 1 – 2005 . www.unicamp.br/fef/publicacoes/conexoes/v3n1/Educa%E7%E3o%20
para%20convivencia.pdf. acesso em 20 de julho de 2006.
SANTOS, Caroline Matos, Hélio Santos Bóga Filho, Maria Josiane de Azevedo Correia. Competição versus cooperação: este é o nosso dilema. http://www.mesquitaonline.com.br/artigos_mostrar.php?cod=72. acesso em 20 de junho de 2006.
WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.
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